Preta Gil: Vida, Luta e Adeus de um Ícone aos 50 anos
O Brasil e o mundo da música lamentam a perda de uma das vozes mais vibrantes e autênticas de sua geração. A cantora e empresária Preta Gil faleceu neste domingo, 20 de julho, aos 50 anos, em Nova York, nos Estados Unidos, onde estava em tratamento contra um câncer no intestino. A notícia de seu falecimento, após uma piora em seu quadro de saúde, pegou de surpresa fãs, amigos e familiares, que agora preparam o retorno do corpo da artista ao Brasil.
Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, terceira mulher do lendário cantor, Preta Gil era parte de uma das famílias mais icônicas da música brasileira. Além de Pedro e Maria, frutos do mesmo casamento, Preta tinha mais cinco irmãos: Nara e Marília (do relacionamento de Gil com Belina de Aguiar) e Bem, José e Bela Gil (da união do cantor com Flora). Essa vasta família, repleta de talentos, sempre foi um pilar em sua vida e carreira.
A vida pessoal de Preta Gil foi marcada por diferentes fases e relacionamentos.
Em 1994, casou-se com o ator Otávio Müller, com quem teve seu único filho, Francisco Gil. Francisco, por sua vez, é pai de Sol de Maria, a única neta de Preta, que se tornou uma fonte de grande alegria para a cantora. A separação de Otávio ocorreu em 1995.
Em 2009, Preta uniu-se ao mergulhador Carlos Henrique Lima, permanecendo juntos até 2013.
No mesmo ano, iniciou um relacionamento com Pedro Godoy, com quem se casou dois anos depois. A união durou até 2023, e o término ocorreu de forma discreta, em meio ao delicado tratamento de Preta contra o câncer.
Uma Carreira Sem Rótulos: Música, TV e Empreendedorismo
Preta Gil, que inicialmente seguiu carreira como produtora e publicitária, decidiu abraçar o microfone aos 29 anos, marcando sua estreia na música. Em 2003, lançou seu primeiro álbum, “Prêt-à Porter”. O disco, que trazia o hit “Sinais de Fogo”, uma composição de Ana Carolina feita especialmente para ela, gerou grande repercussão. A capa, que mostrava a cantora nua, provocou controvérsia e críticas em um cenário ainda bastante conservador.
“Eu lembro que fui mostrar para o meu pai e ele falou: ‘Desnecessário, Preta’. Aquilo foi uma confusão na minha cabeça. Mas meu pai é um sábio. Ele sabia exatamente o que eu ia passar depois. Eu lancei o disco achando que estava abafando, mas veio uma enxurrada de muitas críticas na época. De muito conservadorismo”, revelou Preta em entrevista a Pedro Bial, refletindo sobre o impacto de sua ousadia.
Logo após sua estreia musical, Preta Gil expandiu seus horizontes para a televisão, estreando o programa “Vai e Vem”. Com um cenário inusitado de elevador, Preta recebia convidados para discussões abertas e descontraídas sobre sexo. “Queria que fosse um programa sem vulgaridade, com inteligência, com humor”, contou a artista em entrevista a Jô Soares, mostrando sua intenção de abordar o tema de forma leve e informativa.
Para celebrar seus dez anos de carreira, Preta Gil gravou o DVD “Bloco da Preta”. O trabalho era uma verdadeira fusão de ritmos brasileiros, passeando do pop ao sertanejo, do funk ao axé, pagode e samba. Preta cantou acompanhada dos ritmistas da bateria “Black Power” e contou com participações de grandes nomes da música nacional como Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel Novaes e Thiaguinho, evidenciando sua versatilidade e o respeito que conquistou entre os colegas.
Preta Gil também foi a força motriz por trás de um dos maiores blocos da história do carnaval carioca. Em 2010, o “Bloco da Preta” desfilou pela primeira vez, ganhando rapidamente a simpatia dos foliões. Em 2017, em uma memorável homenagem a Chacrinha, o bloco conseguiu “arrastar” mais de 500 mil pessoas pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, consolidando-se como um dos eventos mais esperados e grandiosos do carnaval.
Em 2017, a cantora lançou seu sexto e último álbum de estúdio, “Todas as Cores”, distribuído exclusivamente em versão digital. O disco contou com participações especiais de Pabllo Vittar, Marília Mendonça e sua madrinha Gal Costa, além de incluir a canção “Botando a fila para andar”, composta novamente por Ana Carolina. Em 2021, em um momento de profunda conexão, Preta gravou a música “Meu Xodó” em parceria com seu filho, Francisco Gil.
A cantora revelou que a faixa foi uma “mola que a tirou do fundo do poço”. “Se não fosse o Fran, eu talvez tivesse perdido a minha voz mesmo, porque sou intérprete, não sei tocar instrumento. Ele foi me estimulando o tempo inteiro a não entrar nessa bad total”, explicou ao G1, demonstrando a importância do apoio familiar em sua trajetória.
Ao longo de sua carreira multifacetada, Preta também fez participações em novelas e séries de TV, como “As Cariocas”, “Ó Paí, Ó” e “Vai que Cola”. Além de artista, ela investiu no mundo empresarial, tornando-se uma das sócias da agência Mynd. A empresa, que gerenciava a carreira de dezenas de artistas e influenciadores, incluindo nomes como Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Camilla de Lucas, reforçava seu faro para os negócios e sua influência no cenário do entretenimento.
A cantora viveu os últimos momentos no Brasil, especialmente na Bahia, como quem se despedia do lugar que a abraçou desde a infância e que era a terra natal de seu pai, Gilberto Gil. Um dos momentos mais marcantes de sua despedida no Brasil aconteceu pouco depois de curtir o Carnaval em Salvador: com autorização médica, Preta tomou um banho de mar, um gesto simbólico de conexão e liberdade antes de partir para o tratamento nos EUA. Quatro meses depois, a vida se encerrou em solo americano.
A Luta Contra o Câncer e a Despedida
A trajetória de Preta Gil foi marcada por uma intensa batalha contra o câncer colorretal, diagnosticado em janeiro de 2023. A doença, que acomete o cólon e o reto (partes do intestino grosso), exigiu um tratamento rigoroso. Logo após a descoberta, a cantora iniciou sessões de quimioterapia e radioterapia. Em agosto de 2024, ela passou por uma cirurgia para remover os tumores. Contudo, exames posteriores indicaram que o câncer havia se espalhado para quatro outras regiões do corpo, o que exigiu a retomada do tratamento.
Em maio deste ano, Preta viajou aos Estados Unidos em busca de novas possibilidades de cuidado. Ela havia explicado que os tratamentos realizados no Brasil haviam chegado ao limite e que a cura, em suas palavras, poderia estar no exterior. “No Brasil, já fizemos tudo o que podíamos. Agora minha chance de cura está no exterior, e é para lá que eu vou”, disse em abril, durante participação no programa Domingão com Huck, demonstrando sua esperança e determinação.
Os últimos meses foram de intensa luta. Preta estava hospedada em Nova York e viajava frequentemente para Washington para receber o tratamento em um centro médico especializado, com foco em terapias experimentais. Apesar de toda a dedicação, a cantora teve uma piora em seu quadro de saúde desde a última quarta-feira, 16 de julho. Durante uma sessão de quimioterapia, ela se sentiu mal, e os médicos detectaram que a doença havia se alastrado ainda mais. Preta Gil não resistiu e faleceu em casa, em Nova York, neste domingo, aos 50 anos.
A assessoria de imprensa da artista confirmou a informação do falecimento, e a família deve se manifestar em breve. Gilberto Gil já revelou estar organizando a repatriação do corpo da filha, embora ainda não haja previsão para a chegada no país.
Amigos próximos da artista e seu filho, Francisco, estão nos Estados Unidos, acompanhando o doloroso processo. A atriz Carolina Dieckmann, uma das melhores amigas de Preta Gil, conseguiu uma brecha nas gravações da novela e viajou para os EUA, mas não sabia que o estado da cantora era tão grave. O pai da artista, Gilberto Gil, teve aumento da pressão arterial ao receber a notícia do falecimento, um reflexo da dor e do impacto da perda para toda a família e para o Brasil. Preta Gil deixa um legado de autenticidade, luta e arte, que certamente permanecerá vivo na memória de seus fãs.
Fotos: Rede Social Intagram
Por minuto61
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